O meu filho não come vegetais
Por: Joana Contreiras, Nutricionista
Que os vegetais oferecem muitos nutrientes e são alimentos fundamentais na alimentação das nossas crianças, ninguém dúvida. No entanto, este é um grupo de alimentos desafiante e, geralmente, pouco aceite pelos mais pequenos no seu formato inteiro, levando muitos pais, a questionarem-se se devem "esconder" os vegetais na comida.
Esta não é uma resposta direta de "sim" ou "não" tal como a maioria das questões relacionadas com a alimentação das crianças!
Se, do ponto de vista nutricional, incluir os vegetais de forma camuflada nas refeições é uma boa maneira de garantir um maior aporte de nutrientes importantes (misturar vegetais extras em molhos de massa; adicioná-los a muffins ou panquecas, fazê-los numa sopa ou batido, entre outros), esta estratégia pode criar um pequeno-grande problema. Sabe-se, pela evidência científica, que a familiaridade com os alimentos é o que leva as crianças a aceitá-los e a gostar deles. Assim, esconder os vegetais significa que o seu filho não é exposto a eles diretamente na sua forma natural. Logo, ele não será capaz de aprender a aceitar as cores, texturas e sabores desses alimentos pelo que realmente são e mais dificilmente virá a consumi-los.
Deste modo, embora misturar vegetais num molho de massa, sopa ou batido possa significar que esses vegetais são consumidos, não significa que a sua criança vá aceitá-los a longo prazo.
Então, poderá perguntar-se: Qual a melhor solução?
A minha sugestão vai no sentido de utilizar ambas as estratégias em simultâneo, garantindo uma boa ingestão de nutrientes e uma oportunidade de aprendizagem. Por exemplo, se estiver a oferecer um muffin de cenoura ofereça também alguns palitos de cenoura. Se oferecer uma massa com molho de tomate, pimento ou courgette, tente oferecer igualmente estes vegetais no seu estado natural como acompanhamento. Pode acontecer que a criança ignore a sua presença, mas garante o objetivo, que é simplesmente expô-la aos vários vegetais.
Outro fator importante é ser transparente com a criança sobre o que está na sua comida. Ao enganá-la, escondendo nas suas refeições alimentos que ela claramente não gosta, pode torná-la menos confiante e mais ansiosa em relação aos alimentos e às refeições levando mesmo à rejeição de alimentos previamente aceites. Uma boa forma de ultrapassar esta situação e de iniciar o “processo de exposição”, passa por envolver, desde cedo, a sua criança na preparação das refeições. Este envolvimento pode ser: ler a receita, identificar ou desenhar os ingredientes usados, ajudar a colocar os alimentos no prato, pedir-lhes para escolher os acompanhamentos da refeição e mais o que a sua criatividade ditar. Estas ações são uma forma de expô-los, gentilmente, a diferentes alimentos dando-lhes oportunidade de os ver, cheirar e sentir bem como ajudá-los a saber mais sobre os alimentos que estão no seu prato.
Por fim, importa recordar que os pais são o exemplo. Assim, se pretende que o seu filho coma a sopa, deve comê-la com ele. A hora da refeição deve ser um momento em família, harmoniosa e tranquila, idealmente sem distrações.