Do berço à adolescência: o desenvolvimento infantil
Por: Filipa Nogueira, Psicologa Clinica
Sabia que a parte do cérebro responsável pelo controlo de impulsos, regulação emocional e capacidade de planeamento, o córtex pré-frontal, é uma das últimas partes a desenvolver-se? Sabendo que o cérebro apenas atinge a sua maturidade na idade adulta (aproximadamente aos 25 anos), fará sentido esperar que uma criança de 2 anos compreenda o impacto que as suas ações têm ou vão ter no futuro?
O comportamento infantil passa por diferentes fases ao longo do desenvolvimento, sendo cada uma delas caracterizada por mudanças específicas, que refletem o crescimento da criança em diversas áreas. São esperadas mudanças físicas, cognitivas, emocionais e sociais ao longo de toda a vida. Quanto melhor as compreendermos, mais facilidade vamos ter, como adultos, em promover as suas potencialidades, (re)conhecendo também as suas fragilidades. Queremos educá-las de uma forma que permita um desenvolvimento natural e saudável, de forma ajustada e com as expetativas, o máximo possível, alinhadas.
De realçar que as idades mencionadas devem servir como referência, uma vez que o desenvolvimento pode variar, quer por fatores individuais quer por fatores do próprio contexto. Isto acontece porque a interação da criança com o ambiente (seja ele familiar ou escolar) tem uma grande influência no seu comportamento.
Assim, após o nascimento de um bebé, este começa a compreender que é um ser diferenciado do seu cuidador aproximadamente aos 5/6 meses, altura em que intensifica o seu processo de exploração. Este deve acontecer com atividades sensoriais que permitam a exploração do ambiente. É esperado que queira tocar, ouvir, cheirar, provar e sentir tudo o que está à sua volta, devendo ser permitida essa exploração, garantindo que o faz em segurança.
A partir dos 2 anos, começam a ter um maior controlo motor e a conseguir manipular os objetos com maior precisão. Entre esta idade e até aproximadamente os 5 anos, é esperado que o seu pensamento seja egocêntrico e muito concreto, sendo por isso difícil para eles compreender a perspetiva do outro, procurando a independência na exploração do mundo. Querem fazer e experimentar as coisas sozinhos, sendo por isso esperado que testem limites e frustrem mais.
Com a entrada na idade escolar, normalmente a partir dos 6 anos, espera-se que o outro comece a ganhar importância para si, havendo uma maior compreensão das regras sociais e uma maior necessidade de reconhecimento por parte do adulto, relativamente às suas conquistas. O pensamento começa a ser mais lógico e estruturado, havendo uma maior compreensão de conceitos abstratos.
Na pré-adolescência, o grupo de pares ganha ainda mais importância e o pensamento abstrato, a par de um raciocínio cada vez mais crítico, irá facilitar na resolução de problemas complexos. Demonstram mais interesse por compreender o mundo ao seu redor e com a entrada na adolescência, começam a questionar crenças e normas sociais, desafiando muitas vezes as mesmas.
A verdade é que, muitas vezes, queremos e esperamos que as nossas crianças tenham capacidades que estão dependentes de uma parte do cérebro que não está totalmente desenvolvida. Relembrando a pergunta inicial, a resposta seria não, não faz sentido esperar que uma criança de 2 anos, com um cérebro tão imaturo, tenha a capacidade de compreender algo tão complexo. Sabendo isso, podemos ajudar a que adote comportamentos que vão impactar positivamente o futuro do planeta, não sendo expectável, no entanto, que os compreenda ou valorize como nós, adultos.
Quanto mais cedo iniciarmos a promoção de hábitos saudáveis, mais positivo será o impacto no futuro. Adaptarmos as estratégias educativas ao nível de desenvolvimento da criança e do adolescente permite um trabalho que irá desde a sensibilização inicial até ao pensamento crítico. Cada fase exige uma abordagem diferente por parte do adulto, sendo de realçar o papel que desempenham como modelos na vida das crianças, devendo ajudá-las e acompanhá-las nesta missão.